UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA
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A Etnografia Visual de Harald Schultz

A Etnografia Visual de Harald Schultz

Etnologia Brasileira – Coleção Harald Schultz
Acervo Iconográfico e Audiovisual

Harald Schultz (1909-1966)

Discípulo informal de Rondon e Nimuendajú, começou sua carreira de expedições etnográficas como funcionário no Serviço de Proteção aos Índios (SPI) em 1942, onde chefiou a Equipe de Expedições, conhecida como Equipe Cine-Fotográfica, ligada a Seção de Estudos, cujo objetivo era “documentar através de pesquisas etnológicas e linguísticas, registros fotográficos, cinematográficos e sonográficos, todos os aspectos das culturas indígenas”.

Em 1946 estudou etnologia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, sob a orientação de Herbert Baldus, com quem passou a trabalhar no ano seguinte no Museu Paulista. Até o seu falecimento, realizou praticamente todos os anos longas temporadas de pesquisa de campo, coletando mais de 6 mil artefatos documentados para o Museu Paulista, sem contar os materiais arqueológicos provenientes de prospecções realizadas na bacia do Amazonas (cerca de 2.700 peças).

Harald Schultz tornou-se conhecido como fotógrafo etnográfico de primeira linha, produzindo centenas de fotos e diapositivos, gravações sonoras e filmes didáticos, além de numerosas contribuições escritas.

A Coleção Fotográfica

A coleção fotográfica de Harald Schultz sob a guarda do museu está composta de 1.126 diapositivos (slides) que retratam o modo de vidas de diversos grupos indígenas brasileiros registrados pelo etnógrafo durante suas pesquisas de campo entre os anos de 1942 a 1965.

As imagens retratam cerca de 14 grupos indígenas brasileiros, destacando-se os Javaé, Karajá, Kaxinawá, Krahô, Rikbatsá, Tukuna, Umutina e Waujá cujas imagens são mais representativas. A organização das imagens foi feita pelo próprio pesquisador através de fichas catalográficas com a identificação do número do slide, grupo indígena e legenda.

Os registros fotográficos de Harald Schultz somam mais de 24.000 itens e se encontram sob a guarda da antropóloga Vilma Chiara, viúva de Schultz e companheira do etnólogo em diversas expedições.
Javaé
Waurá
Krahô
Kaxinawá
Umutina

Link para os dados das fotos.

Harald Schultz e a Enciclopédia Cinematográfica

Grande parte dos filmes de autoria de Harald Schultz sob a guarda do MAE/USP provém da Enciclopédia Cinematográfica, idealizada em 1952 pelo Dr. Gotthard Wolf, diretor do Institut fur den Winssenschaftlinchen Film (IWF), que propôs o estabelecimento em Göttingen, Alemanha, do primeiro arquivo sistemático do filme científico. O trabalho de compilação e organização da Enciclopédia Cinematográfica, composto de três grandes seções: Biologia, Etnologia e Ciências Técnicas, foi inicialmente realizado pelo Dr. Konrad Lorenz, diretor do Max-Planck-Institut für Verhaltensphysiologies.

O IWF estabeleceu um método de documentação científica para o registro das práticas culturais dos povos indígenas e das chamadas culturas populares, formando antropólogos alemães para filmarem na Melanésia, África, América e Europa. Harald Schultz foi um destes etnólogo, colaborando com a produção de filmes etnográficos que retratavam as práticas cotidianas e rituais das populações indígenas brasileiras para a Enciclopédia.

Em 1961, o diretor Gotthard Wolf (IWF) sugeriu ao etnólogo Harald Schultz (Museu Paulista), a instalação da Enciclopédia Cinematográfica no Brasil, cujo objetivo era o de organizar e manter em funcionamento um serviço de empréstimos de filmes para todo o território nacional e, eventualmente, para os demais países da América Latina.
Como o Museu Paulista não tinha condições de acolher o acervo, Harald Schultz e antropólogo Egon Schaden (que se associou ao projeto) iniciaram tratativas com diversas instituições brasileiras, que acabaram por não se efetivar. Foi apenas em 1969 (três anos após a morte de Harald Schultz) que o Dr. Egon Schaden, então docente da Escola de Comunicação e Artes da USP, obteve apoio da escola para criar a “Comissão do Centro de Filmes Científicos”, com o intuito de acolher a referida coleção.

Em 1972, foi firmado convênio entre a Universidade de São Paulo e o Institut fur den Winssenschaftlinchen Film, com o recebimento de 1.023 filmes científicos.

A Coleção Audiovisual

O acervo da Enciclopédia Cinematográficas da seção de Etnologia – cerca de 137 filmes (cópias e originais) – encontram-se hoje sob a guarda do MAE/USP. A coleção abarca 88 filmes de autoria de Harald Schultz (originais e cópias), produzidos entre os anos de 1943 a 1965 junto aos povos indígenas brasileiros, e outros 49 filmes de povos indígenas da América, de autoria de diversos antropólogos.

O museu abriga também um segundo conjunto de filmes de Harald Schultz, que se encontravam depositados no Museu Paulista e foram transferidos para o MAE/USP quando da fusão dos acervos em 1989. Parte do material são cópias e trechos dos filmes já disponibilizados na Enciclopédia Cinematográfica; o restante encontra-se sem identificação em função da deterioração do material fílmico (o que impossibilitou a sua digitalização adequada) e da ausência de documentação de origem.

UMUTINA

Dança de Culto aos Mortos
(1945)

JAVAHÉ

Dança das Máscaras - Aruanã
(1959)

SUYÁ

Esculpindo um disco labial
(1959)

WAURÁ

Obtenção do corante urucum
(1964)

KRAHÔ

Pintura Corporal
(1965)

Link de acesso dados do filme.
Link de acesso aos filmes.

Referências Bibliográficas

COUTO, Ione Helena Pereira. Armazém da Memória da Seção de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios, SPI. Tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Memória Social, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, 2009.

DAMMY, Antônio Sergio Azevedo e HARTMANN, Thekla. As coleções etnográficas do Museu Paulista: composição e história. In: Revista do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, v. XXXI, 1986: 220-273.

CAMPOS, Sandra Maria C. T. L. Antropologia visual: velhas fronteiras disciplinares, novas abordagens. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 4, 1994: 167-172.

MENDES, Marcos de Souza. Heinz Forthmann e Darcy Ribeiro: cinema documentário no Serviço de Proteção aos Índios, SPI, 1949-1959. Tese de doutorado em Multimeios. Instituto de Artes. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

RIBEIRO, José da Silva. Antropologia visual, práticas antigas e novas perspectivas de investigação. In: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 48, nº2, 2005: 613-648.

Documentação Institucional MAE/USP
1. Arquivo da Coleção Enciclopédia Cinematográfica;
2. Arquivo da Coleção Fotográfica de Harald Schultz;
3. Relatório Científico FAPESP – Processo 2012/51127-8.