As pesquisas de docentes do MAE têm resultado na criação de museus regionais, graças ao apoio das prefeituras locais, onde são expostos os acervos recuperados das escavações arqueológicas. Exemplo disso são o Museu Municipal de Arqueologia de Perdizes, no estado de Minas Gerais, e o Museu Municipal de Arqueologia de Monte Alto, no estado de São Paulo.
Museu Municipal de Arqueologia de Perdizes/MG
Rua João Luciano Barbosa s/n, CEP 38170-000, Perdizes, MG. Entrada gratuita.
Inaugurado em Julho de 1986, este museu é resultado de convênios assinados entre a Universidade de São Paulo (USP), intermediada pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), e a Prefeitura Municipal de Perdizes/MG. Possui sede própria na Praça principal da cidade, antiga sede da Prefeitura.
Atual exposição: “História de longa duração no Vale do Paranaíba, margem mineira” (os paineis explicativos estão em português e inglês)
Todo o acervo exposto no Museu de Perdizes foi coletado de maneira sistemática no âmbito do Projeto Quebra-Anzol/MG, coordenado pela Profª Drª Márcia Angelina Alves, Livre Docente em Arqueologia brasileira. Este projeto atua na região desde 1980 e já possibilitou a elaboração de oito Mestrados, dois Doutorados e parte de uma Livre-Docência junto à USP. As pesquisas desenvolvidas nos sítios a céu aberto, em interflúvios da bacia do rio Paranaíba, e em especial do Quebra-Anzol, resultaram na identificação e evidenciação de três horizontes sócio-culturais:
- caçadores-coletores (predominantemente no curso médio do rio Paranaíba), com datações absolutas entre 7300 anos A.P. e 1800 anos A.P.;
- agricultores-ceramistas pré-coloniais (predominantemente no Alto Paranaíba, concentrados no Vale do rio Quebra-Anzol), com datações absolutas entre 1830 anos A.P. e 400 anos A.P.;
- agricultores-ceramistas do período colonial e pós-colonial (idem), séculos XVII ao XIX.
A cultura material dos caçadores-coletores é representada por indústria lítica, cujo artefato guia é o plano convexo (lesma), fato que tecnologicamente converge com a Tradição Itaparica. A cultura material dos agricultores-ceramistas pré-coloniais é representada por uma cerâmica não decorada, típica da Tradição Aratu-Sapucaí: urnas periformes sem decoração (com funções de enterramentos primários e como urnas-silo), pequenos vasos geminados (indicando as polaridades duais dos povos Macro-Jê), vasilhames ovóides e trapezoidais com as bases convexas, fusos, cuscuzeiros. Particularmente, o Museu de Arqueologia de Perdizes conta também com uma coleção de tembetás. Por fim, a cultura material de povos do período colonial e pós-colonial consta com a inovações tecnológicas: vasos com bases planas e aplicação de incisões em três linhas oblíquas ou semi-oblíquas como marcador de identidade étnica/cultural do povo Kayapó Meridional.
Museu Municipal de Arqueologia de Monte Alto/SP
Praça do Centenário s/n, CEP 15910-000, Monte Alto, SP. Entrada gratuita.
Iaugurado em Abril de 1999, este museu é resultado de convênios assinados entre a Universidade de São Paulo (USP), intermediada pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), e a Prefeitura Municipal de Monte Alto/SP. Possui sede própria no Centro Cultural de Monte Alto/SP.
Museu de sítio: Água Limpa, com ocupações de 1500 anos A.P. até o século XVI.
Atual exposição: “Povoamento pré-histórico no vale do Turvo/SP” (os paineis explicativos estão em português e inglês)
Todo o acervo exposto no Museu de Monte Alto foi coletado de maneira sistemática no âmbito do Projeto Turvo/SP, coordenado pela Profª Drª Márcia Angelina Alves, Livre Docente em Arqueologia brasileira. Este projeto atua na região desde 1993 e já possibilitou a elaboração de dois Mestrados, dois Doutorados (um em Arqueologia e outro em Física) e parte de uma Livre-Docência. O sítio Água Limpa, a céu aberto, localizado no bairro rural homônimo, distante sete quilômetros da sede municipal, está depositado em um interflúvio circundado pelos córregos Água Limpa e Santa Luzia. O sítio consta de três zonas de escavação sistemática, estando duas em processo de pesquisa. As escavações desenvolvidas no Água Limpa resultaram na identificação e evidenciação de dois horizontes sócio-culturais:
- agricultores-ceramistas pré-coloniais, com datações absolutas do século V ao século XVI, com alguns artefatos guia da tradição Aratu-Sapucaí: pequenos vasos duplos (indicando as polaridades dos povos Macro-Jê), fusos, cuscuzeiros e vasilhames com bases convexas, mas sem a presença de urnas periformes; porém, o padrão de sepultamento primário – em uma área específica, no perímetro da aldeia mas fora das habitações -, é representado por uma área de sepultamentos primários diretamente na terra, estando alguns enterramentos com bens funerários indicando ritos de acordo com a idade e sexo. Entre as inovações da cultura material representada no museu, é possível elencar a cerâmica com brunidura, a presença de pintura monocromática na cor vermelha, sem engobo, e a ocorrência de carimbo cerâmico com padrão que remete à identidade étnica, além de artefatos líticos fálicos, infantis e adultos.
- agricultores-ceramistas do período colonial, com inovação tecnológica da adoção de bases planas e ausência da pintura monocromática na cor vermelha. Século XVII.
Por fim, a cultura material de povos do período pré-colonial e colonial converge para a sua identificação como Kaingang, do centro-Norte do estado de São Paulo.